Jornada Arcade #1: O começo

Pronto para embarcar numa jornada única?
Fonte: Wallpaper Flare (imagem original).


Existem diversos gêneros de jogos no mercado. Cada um emprega um conjunto de técnicas, diretrizes e/ou "filosofias" no seu desenvolvimento. Mas se tem um estilo que está à beira da extinção, ao menos no nível de design, é o arcade.

Na minha vida, joguei muito pouco em fliperamas. Para ser sincero, só lembro de três títulos que acessei nas máquinas, ainda no século passado: Street Fighter II "não-me-pergunte-qual-versão-pois-não-lembro"; um beat 'em up que me parecia muito com Captain Commando, mas que não consigo afirmar que sim, já que não me recordo do título; e um jogo de snowboarding muito legal, mas que nem na época sabia do nome.

Tá, tenho quase certeza de que não era esse, mas teria
gostado de jogar o Turbo naquela época.

Um pouco mais tarde, já nesse século, pude jogar The King of Fighters '99, nas máquinas do bar do meu tio, quando passei um tempo por perto. E só. Minha história com os fliperamas, propriamente ditos, termina aí. Para a sorte de nós jogadores, muitos dos títulos dos arcades podem ser experienciados em diversas versões lançadas para serem jogadas em casa, principalmente nos consoles da SEGA, que por décadas atuou nesse mercado e sempre acreditou nesse tipo de design.

A tela é da versão AES, mas dá para captar a ideia.


Mesmo que sem perceber, jogando no meu SEGA Master System e depois no meu Mega Drive, sempre fui apaixonado por títulos de arcade ou os produzidos com eles em mente. Dediquei (e ainda dedico) grande parte do meu tempo em frente a um sistema jogando-os. Com o advento dos emuladores, consegui conhecer uma miríade de títulos com valor de replay infinito, divertidos ao extremo e recompensadores quando nos tornamos mestres deles. Os desenvolvedores realmente tinham os princípios do design dos arcades na ponta dos dedos.

Para os brasileiros, um verdadeiro arcade em casa.
Fonte: Sega Retro.


Bom, acontece que atualmente não é bem mais assim, infelizmente. O conjunto "filosófico" dos fliperamas foi sendo abandonado, pouco a pouco, pelas décadas. Aqui eu resumo o design dos arcades em contraste ao que se vê hoje em dia:

  • A dificuldade escalar especialmente projetada — jogos de hoje são consideravelmente mais fáceis do que os de antigamente;
  • A alta densidade, ou o grande volume do gameplay — jogos atuais possuem longas seções inúteis de caminhada ou de pseudo-exploração de terreno;
  • Replay significativo e atrativo — atualmente, o foco é terminar o jogo, simplesmente saindo do ponto "A" ao "C", quase sempre acabando por aí mesmo; e
  • Recompensa pela habilidade e não pelo progresso — hoje, não há elementos intrínsecos ao jogo no estilo dos arcades, como sistema de pontuação, tipos e estilos distintos de gameplay, mecânicas específicas, entre outras coisas, que o recompense por torna-se um jogador habilidoso.
Talvez eu esteja sendo um pouco duro com os jogos e jogadores modernos, mas ao se observar o estado das coisas, é o que pode ser percebido. Basta ver reviews de jogos clássicos dos arcades relançados para consoles modernos, ou de jogos novos que foram produzidos com as acertadas escolhas de design típicas que citei mais acima e será possível ver comentários como "é muito difícil", ou "muito curto", "não é balanceado", "é focado em ser retrô", "traz tudo de ruim dos arcades" (esse daqui me faz rir e ficar triste ao mesmo tempo 🤡) e por aí vai.

Final Vendetta sofreu muito com esse tipo de review.
Fonte: GOG.

A maioria dos autores dessas reviews são jogadores modernos e/ou criadores de conteúdo (jornalistas inclusos) que não jogam de verdade. Eles não entendem os princípios de um videogame que desafia suas habilidades, que as testam, que os colocam em situações que apenas a experiência e a perícia adquirida podem salvá-los. Isso acontece às vezes por escolha, às vezes por desconhecimento.

E é justamente por isso que resolvi criar essa série: trazer a minha jornada pessoal no mundo dos arcades, em especial a nova exploração que venho fazendo nessa gigante biblioteca de jogos. Vamos falar sobre controles, como operá-los, falar sobre jogos de luta, sobre a comunidade que os cerca, beat 'em ups, shoot 'em ups, run and guns, jogos de plataforma e títulos para consoles e PC com esse design em mente. Claro, falarei também dos diversos desenvolvedores e sistemas específicos das máquinas e faremos cruzadas em suas bibliotecas, assim como trarei dicas de emulação e configuração, quando for necessário.

As reviews de títulos específicos ficarão em seção oportuna do blogue, mas essa série vai além das análises, como já deve ter ficado aparente. É uma série criada para trazer luz a esse maravilhoso mundo dos arcades, que é mais atual do que se pode imaginar.

Mas e então? Vem me acompanhar nessa jornada?

jfmf

Um dos criadores do Nunca Joguei. É um jogador, como você, que busca sempre descobrir (e redescobrir) as pérolas do universo dos videogames.

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